Sobre os aumentos salariais
Escrevo a propósito de um “post” colocado no blogue “Causa Nossa”. Nesse “post”que foi utilizado para dar voz aos seus leitores (
e que poderá ser consultado aqui) há uma opinião com a qual não concordo. Segundo o artigo publicado pelo Sr. M. E. Sampaio “não é possível crescimento económico num país onde as pessoas recebem salários tão baixos que apenas podem suportar? e mal? as suas despesas essenciais com a habitação, a saúde e a educação.”
Não me preocupando com o apuramento tecnico ou sequer com uma utilização de conceitos tecnicos, vou explicar grosso modo a opinião que subscrevo. O autor do artigo esquece-se ou não se quer lembrar que um dos principais problemas do país é a falta de produtividade e de competitividade no mercado interno e externo (estou a incluir, erradamente a UE no conceito de mercado externo). Um aumento salarial provocaria um consequente aumento da procura (efeito de rendimento). Até aqui estaria tudo bem, se não fosse o facto de grande parte dos bens consumidos em Portugal serem importados. A conclusão é lógica: O aumento do consumo acarreta um aumento das exportações que por sua vez engordam o deficit da balança de pagamentos depauperando-nos ainda mais. Enquanto a economia portuguesa não se tornar mais competitiva e não aumentarem as exportações, qualquer retoma económica traz consigo uma crise ainda maior. Consumo já nós temos, não temos é o que consumir (que seja produzido em Portugal, entenda-se). Não sou pessimista, apenas noto que temos de ter cautela, que os indicadores económicos estão a subir mas continuam fracos. Tenhamos cuidado e espreitemos para ver se do fundo do túnel não sai outro comboio (expressão utilizada por Sérgio Figueiredo numa entrevista à RTP 1). Aconteceu uma coisa parecida, embora muito mais grave, em meados da década de setenta até á década de oitenta.
Sendo que o que foi escrito tem que ver com o aumento do salário mínimo penso ser útil uma exposição da teoria, a meu ver, mais correcta. A fixação de preços mínimos no mercado de trabalho (como todas as formas de fixação administrativa de preços) acarreta o grande inconveniente de aumentar o desemprego. A entidade patronal vai empregar menos gente do que aquela que precisa porque o salário que paga é superior ao valor do serviço que recebe. Acresce a isto que a entidade patronal por causa do aumento dos custos de produção não pode contratar mais do que aquele empregado. Por isso para além de se gerar desemprego também as necessidades do patrão não são totalmente satisfeitas. Contudo devem ser fixados salários mínimos porque se em Portugal se pagasse o trabalho não qualificado pelo preço de mercado não eram garantidas aos trabalhadores as condições mínimas de existência.
O aumento excessivo dos salários faz com que haja, dependendo da elasticidade, uma diminuição da procura. No meio deste debate as posições dos sindicatos não são isentas de criticas. No discurso dos sindicatos, os chavões do género: "estamos preocupados com o bem-estar social", são falaciosos.
Penso que qualquer semelhança entre o discurso das associações sindicais e o socialismo se está a tornar, cada vez mais, pura coincidência. Como notou Prof. Vital Moreira o socialismo postula o bem-estar social enquanto que o discurso dos sindicatos, cada vez mais, de forma hipócrita e encoberta, procura o bem-estar dos associados. Para mais desenvolvimentos e um enquadramento deste "post"
ver aqui e hiperligações e artigos publicados nesta data.