“Quero dizer que, por definição, a existência não é a necessidade. Existir é estar presente, simplesmente, os existentes aparecem, deixam que os encontremos, mas nunca se podem deduzir. Há pessoas, creio eu, que perceberam isto. Somente, tentaram dominar essa contingência inventando um ser necessário e causa de si próprio. Ora, nenhum ser necessário pode explicar a existência: a contingência não é uma ilusão de óptica, uma aparência que se possa dissipar; é o absoluto, por conseguinte a gratuidade perfeita. Tudo é gratuito, este jardim, esta cidade e eu mesmo. É o sentimento disso, quando acontece que ele entra em nós, que nos dá a volta ao estômago, e então começa tudo a andar à roda como no outro da no Rendez-vous dos Ferroviários; ai está a Náusea; aí está que os safados – os do Outeiro Verde – tentam esconder a si próprios com a sua ideia dos direitos. Mas a mentira é pobre e ninguém existe por direito; os burgueses de Bouville são inteiramente gratuitos, como os outros homens, não conseguem deixar de se sentir de mais. E, no seu íntimo, em segredo, transbordam do que são, existem exageradamente, isto é, de uma maneira amorfa e vaga; tristes."
In: La nausée – Jean-Paul Sartre (tradução de António Coimbra Martins – Publicações Europa-América)
De súbditos a plebe
No principio (1926-1974)era a igreja que, nas terras do Zé-povinho, intimidava as pessoas com o medo do inferno (como o Sr. De Rollebon fez com um panteísta amigo de Diderot). Com a revolução dos cravos as massas vão deixando cada vez mais as igrejas e o medo do inferno (que também vai sendo abandonado pela igreja) e agarram-se aos meios de comunicação social isentos, rigorosos e anti-populistas como... a tvi por exemplo. Antes não pensávamos com medo de ser castigados, hoje não meditamos porque a tvi nos diz que sabemos tudo e temos razão. Agora acreditamos com tanta facilidade naqueles que nos idolatram que não percebemos que já nos chamam plebe em vez de povo.
O porquê de ser “O Rocinante”…
Interrogado por alguns amigos sobre o porquê do título do blog e após ouvir algumas criticas sobre os temas tratados aqui que “não se relacionam com a obra de Cervantes”, pensei que os meus motivos deviam ser escritos.
Para vocês aqui vai a resposta, lacónica, de “O Rocinante”. O porquê da referência a esta obra tem várias razões. Primo: que melhor título que dar a um blog que procura criticar do que um que faça referencia a uma obra que visa criticar as necedades de alguns escritores da época que com as suas obras empobreceram os romances de cavalaria. Secundo: “O engenhoso fidalgo D. Quixote da mancha” é analisado em variadíssimos ramos da cultura e estudado por: filólogos e estudiosos da literatura como: Miguel Unamuno, Güter Grass, Júlio Cejador, Carlos Barroso, de entre outros; juristas (é verdade também neste livro se tocam temáticas relacionadas com o direito), verbi gratia: J. Puyol y Alonso, A. Royo Villanova &c.
Foi levantado problema diverso por aqueles que perguntaram porque é que eu não intitulei o blog com um nome que fizesse uma referência mais clara à obra de Cervantes. Foi: para fazer com que quem lê busque os porquês daquilo que lê e porque: embora este blog seja normalmente dom-quixotista, por vezes bem-humorado, que busca crescer em sageza, é também ele magro de conteúdos, pois o seu criador detém pouca ciência o que se reflecte nos costados do animal que só não é magro em modéstia (modéstia à parte).